A Virgem, o Santo, e o Espírito
“Até
que se derrame sobre nós o Espírito lá do alto...” (Isaías 32:15)
INTRODUÇÃO:
Toda a
escritura aponta para Cristo. Lutero, Spurgeon, e John Piper fizeram esta mesma
afirmação. O texto escolhido aponta para o Messias, e o contexto em apreço se
refere a ele em várias passagens como o Santo de Israel.
Para
descobrirmos com mais detalhes, de que forma Isaías 32:15 está relacionado à
Cristo, precisamos conhecer os fatos que formam a moldura desse texto. A ordem
das profecias no livro de Isaías dificultam um pouco a explanação do contexto.
Mas, com o auxílio do livro de Crônicas e Reis, e da Bíblia em Ordem Cronológica, podemos traçar uma linha mais
esclarecedora.
Antes que
o profeta escrevesse esta frase tão bela, um fato assustador estava assolando o
reino de Judá. O clima no ar era de tensão e medo.
A
invasão de Senaqueribe:
No décimo quarto ano do reinado de Ezequias, Senaqueribe, rei da Assíria, atacou todas as cidades fortificadas de Judá e se apossou delas. (Is 36:1)
Ameaças
de Senaqueribe:
O comandante de campo lhes disse:
Digam isto a Ezequias: assim diz o grande rei, o rei da Assíria: Em que você baseia sua confiança? 21: Você
está confiando no Egito, aquele caniço quebrado que espeta e perfura a mão do
homem que nele se apóia! (II Rs 18:19,21)
Os oficiais de Senaqueribe desafiaram
ainda mais a Deus, o Senhor, e ao seu servo Ezequias. (II Cr 32:16)
Comentário:
Na
história de Israel, o Egito já lhes havia sido a salvação, como também a desgraça.
O Egito foi o abrigo do povo hebreu nos tempos de José, mas foi o terror deste povo nos tempos de Moisés.
Aqui
aprendemos a primeira lição: Não devemos confiar no Egito, mas sim no Rei dos
reis e Senhor dos senhores, o nosso Deus. Ele é o nosso refúgio seguro em todos
os tempos e em todas as terras. Ezequias não poderia contar com o Egito neste
momento de opressão e ameaça vindas da Assíria. Confiar no Egito seria ter a
própria mão perfurada. Este monstro chamado Egito, havia se tornado inofensivo
(Is 30:7 - NVI).
Ninguém no mundo poderia salvar Ezequias, a não ser o Senhor.
Ninguém no mundo poderia salvar Ezequias, a não ser o Senhor.
Promessa de
livramento:
Porque
assim diz o Senhor Jeová, o Santo de Israel... (Is 30:15)
Porque,
com a voz do Senhor, será desfeita em pedaços a Assíria... (Is 30:31)
Como as aves dão proteção aos filhotes
com suas asas, o Senhor dos Exércitos protegerá Jerusalém; Ele protegerá e a
livrará; Ele a poupará e a salvará. (Is 31:5)
Comentário:
Isaías ainda não havia sido consultado
por Ezequias, mas Deus já o havia revelado o que haveria de acontecer. O Senhor
daria livramento ao Seu Povo. Como a ave protege seus filhotes, Ele protegeria
Seus filhos. Sem precisar do Egito e muito menos do insignificante exército de
Ezequias, O Senhor enviaria do alto a salvação para o reino de Judá.
Antes do amanhecer, a
noite exige sua vez:
Porque daqui a um ano e dias vireis a
ser turbadas, ó mulheres que estais tão seguras, porque a vindima se acabará e a
colheita não virá. (Is 32:10)
Até
que...
Até que se derrame sobre nós o Espírito
lá do alto...
Comentário:
As
mulheres são símbolo de vida e esperança. São elas que dão à luz as próximas
gerações. Deus está dizendo que a colheita e fabricação de vinho, bem como o
seu desfrutar, obviamente, teriam seu fim. A noite que precede a aurora
custaria muitas lágrimas a essas mulheres. Até que do alto o Espírito do Senhor
seria derramado, quando então o Senhor desceria para trazer vida, e vida em
abundância.
Nem tudo
pode ser alegria. O mundo é mau e a infidelidade dos israelitas nunca passou
despercebida. Ezequias foi um bom rei, mas foi precedido e sucedido por reis
muito maus, que levaram o povo ao pecado. Deus não castigou Israel tanto quanto
esse povo obstinado merecia, por causa de Sua misericórdia. Mas, o sofrimento
foi inevitável. Ezequias recebeu livramento, mas antes dele, viu várias cidades
de seu reino serem tomadas por Senaqueribe, e Ezequias pagou pesado tributo ao
rei da Assíria.
Ao
invés de cumprir a promessa de derramamento do Seu Espírito, o Senhor faz outra
promessa:
Ai de você, destruidor, que ainda não
foi destruído! Ai de você, traidor, que não foi traído! Quando você acabar de
destruir, será destruído; quando acabar de trair, será traído. (Is 33:1)
... onde está o oficial maior? Onde está
o que recebia tributos?... (Is 33:18b)
Comentário:
A assíria
estava, apenas, sendo usada por Deus para executar o Seu juízo. E deste mesmo
juízo, a própria Assíria não ficaria livre. Assim como ela destruiu, foi
destruída. E para ela, não houve restauração, pois não tinha o Senhor por seu
Deus e nem temeu estender a mão contra o povo escolhido de Jeová.
Sem saber o que
Isaías já sabia, Ezequias consulta o profeta:
E
disseram-lhe: assim diz Ezequias: este dia é dia de angustia e de vitupérios, e
de blasfêmias, como quando uma criança está a ponto de nascer, e
não há forças para dá-la à luz. (Is 37:3)
Comentário:
Quando
Ezequias consulta o profeta Isaías, a ilustração que escolheu para tentar
expressar a agonia e o sofrimento do povo foi o sofrimento de uma mulher em
trabalho de parto. De novo a figura da mulher entra em cena, agora incluindo
explicitamente o nascimento de uma criança. O povo quer vida, mas a morte lhe
faz sombra. Com sua própria força, Judá não pode achar a salvação nesta hora.
Mas
a resposta de Deus traz de volta a coragem:
Esta é a palavra que o Senhor falou a
respeito dele (Senaqueribe): A virgem, a filha de Sião, te
despreza e de ti zomba; a filha de Jerusalém meneia a cabeça por detrás de ti.
(Is 37:22)
Comentário:
A
resposta de Isaías a Ezequias e a Senaqueribe mantêm a figura da mulher, agora
com mais um detalhe, ela é virgem. E esta virgem, que simboliza a fragilidade
máxima de uma pessoa, especialmente em tempos de guerra, é quem zomba de todo o
exército assírio e de seu rei. A mensagem profética de Isaías está garantindo
que o Senhor entrará nesta guerra e a vencerá para dar livramento ao povo de
Sião.
Esta
promessa de livramento se cumpriu quando:
Saiu um anjo do Senhor e feriu, no arraial dos assírios, a 185.000; e
quando se levantaram pela manhã cedo, eis que tudo eram corpos mortos. (Is
37:36)
Comentário:
Deus
enviou dos céus o Seu anjo, e este matou 185.000 soldados do exército assírio.
Diante deste terrível cenário de morte, só o que restou a Senaqueribe foi a
fuga. Ele volta para Nínive, e lá é traído e assassinado, como o próprio Deus
havia sentenciado profeticamente através de Isaías.
Importante:
Note que, ainda, a promessa não está completa, pois o que veio dos céus
não foi o Espírito de Deus, mas sim, um de Seus anjos. Portanto, algo ainda
está para acontecer. Deus ainda não desceu, mas Suas promessas nunca falham.
Uma
certa notícia, dada por um anjo, nos traz ao Novo Testamento:
E, respondendo o anjo (a Maria) disse-lhe:
Descerá
sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a
sua sombra; pelo que também o Santo que de ti há de nascer será
chamado Filho de Deus. (Lc 1:35)
Comentário:
Não
por coincidência, novamente, um anjo aparece na história. Desta vez, não para
destruir (diretamente) um povo sanguinário e idólatra como o da Assíria, mas
para anunciar o nascimento do próprio Santo que, por toda a história, protegeu
Judá. E este nascimento aconteceria através da descida do Espírito prometido. Mas
esta descida ainda não é sobre muitos, mas sobre uma única pessoa, a virgem
Maria. Portanto, a promessa ainda não está completa. O Espírito já desceu, mas
não sobre o povo. É singular o que está acontecendo aqui.
E Maria deu à luz o seu
filho primogênito... (Lc 2:7)
Comentário:
Esse
Espírito prometido desceu sobre a virgem Maria, e Maria representa a virgem da
profecias de Isaías que zombou de Senaqueribe. Senaqueribe representa o
anti-cristo que lidera a batalha contra O Santo de Israel, mencionados no livro
do Apocalipse. A guerra não terminou.
O Santo
de Israel, deixa os céus e se esconde numa virgem. O mundo espiritual sabe que
ele desceu, pois sentiu sua chegada.
Uma
estrela anuncia a Sua chegada:
E, tendo nascido Jesus em Belém da
Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram do oriente
a Jerusalém. (Mt 2:1) E, entrando na casa, acharam o menino com Maria, ..., e
prostrando-se, o adoraram; e, abrindo os seus tesouros, lhe ofertaram
dádivas... (v.11)
Comentário:
O
mundo espiritual sabe e nem faz questão de esconder que o Leão da tribo de Judá
desceu à terra. Uma estrela guia os magos vindos do oriente para adorar e
presentear o Santo de Israel. O Deus-conosco está conosco. “Glória a Deus nas
alturas, paz na terra, boa vontade para com os homens.” (Lc 2:14)
Porém,
o inimigo ainda não se deu por vencido:
E, tendo-se eles retirado, eis que o anjo do Senhor apareceu a José em
sonhos, dizendo: Levanta-te e toma o menino e sua mãe, e foge para o Egito, e demora-te lá até que eu
te diga, porque Herodes há de procurar o menino para o matar. (Mt 2:13)
Comentário:
Novamente
o anjo aparece a José. Mas, mesmo na iminência de um novo ataque feroz e
violento do inimigo, o anjo não veio para derramar sangue desta vez. A guerra
para ele (o anjo) ganhou outro caráter, é uma guerra espiritual pela paz, como
os outros anjos haviam cantado diante dos pastores. O que ele quer é paz na terra. E para evitar maiores perdas
e danos, o anjo envia José ao Egito, a mesma nação que tantas vezes apareceu no
Antigo Testamento. No tempo de Ezequias, o Egito não pôde ajudá-lo. Agora, Deus
está usando o Egito para proteger José e sua família. Herodes quer a morte do
menino porque o menino quer a paz e a vida eterna para o mundo inteiro.
“Se com
Senaqueribe eu não consegui, talvez eu consiga com Herodes”, pensa o diabo. “Preciso
matar e destruir o Santo de Israel.”
Então
Herodes...
Então, Herodes, ... mandou matar todos
os meninos que havia em Belém (de Judá), de 2 anos para baixo... (Mt 2:16)
Em Ramá se ouviu uma voz, lamentação,
choro e grande pranto; era Raquel chorando
os seus filhos e não querendo ser consolada, porque já não existiam. (Mt 2:18)
Comentário:
Então
se cumpriu o que Isaías havia profetizado à respeito das mulheres de Jerusalém,
que estavam tranqüilas como se mau nenhum pudesse alcançá-las. O tempo de suas
lágrimas chegou. O profeta Jeremias junta sua voz à de Isaías, e desenha
Raquel, a esposa de Jacó/Israel, chorando inconsolavelmente por seus filhos.
Raquel representa a mãe de todos os filhos de Israel. Os primeiros mártires do
cristianismo são estes meninos inocentes, são as perdas invitáveis de uma
guerra sem precedentes.
Mas a esperança continua viva
A esperança continua viva, porque nem Senaqueribe, nem Herodes conseguiram
matar o Filho de Davi. E Ele, o Messias, carrega consigo o Espírito Santo;
“porei nele o meu Espírito” (Is 42:1 NVI).
A vida abundante e eterna que Ele veio trazer ainda está só com Ele, mas já
está aqui. E tudo o leva para a cruz.
Na cruz as barreiras caem por terra
Na
cruz Ele diz: “Está consumado”. Sua missão está completa. Nada mais pode
impedir o encontro entre Deus e os homens na dimensão completa do ser. Com sua
ressurreição, renasce a esperança. Ressurreto, ele sopra o Espírito sobre seus
discípulos. Agora, quando Ele sobe novamente aos céus, eles já não estão sozinhos.
Então, a promessa se cumpre
Ao
cumprir-se o dia de Pentecostes, cumpre-se a profecia de Joel (Jl 2:28). E o
“até que” de Isaías (cap. 32:15) chega ao “finalmente”. O Espírito lá do Alto
foi derramado sobre nós. Sim, Pedro deixou claro que a promessa de derramamento
do Espírito já se cumpriu (At 2:16-17). O Santo Espírito de Deus foi liberado
para entrar em nosso ser e nos encher dEle.
Resta-nos agora seguir o conselho do apóstolo Paulo e acatá-lo como ordem:
“...Enchei-vos
do Espírito.” (Ef 5:18).
---
Comentários
Postar um comentário