AGORA ELA É POP, OU SEMPRE FOI?
Muita gente já sabe que a cantora
Priscilla Alcantara já está oficialmente no mercado “secular”, e não mais no gospel.
A cantora têm sido alvo de muitas críticas, como também têm recebido o apoio de
muitos fãs. Ela esclarece que ainda é evangélica, e que somente o seu trabalho
profissional como cantora é que agora está desvinculado do gospel. Agora
ela é pop.
Este
texto trata de algumas perguntas importantes que surgem diante de um fato como
esse: O que é ser pop? É pecado ser pop? É pecado cantar músicas
que não citem o Nome de Deus, nem de Jesus, nem do Espírito Santo, mas que não
digam nada profano ou contrário às Escrituras Sagradas? Quais as implicações e
consequências de uma postura profissional como essa, vinda de uma artista
evangélica muito famosa? Como devemos nos posicionar diante disso?
Longe
de querer fazer qualquer ataque pessoal, muito menos julgar a salvação e o
relacionamento pessoal da Priscilla com Deus (quem sou eu para isso?), proponho
apenas uma análise bíblica e responsável das implicações desta postura de
trabalho da cantora, a qual suscita questionamentos como estes de maneira
inevitável e indisfarçável.
O assunto é polêmico e
delicado, porém, já passamos do ponto de podermos evitá-lo ou de fazer de
contas que não tem a menor importância.
Vamos então?
O QUE É SER POP?
A palavra pop possui
significados diferentes, dependendo do contexto em que ela aparece. Pop
pode estar relacionado a um estilo ou linguagem musical específica, como os
estilos dos artistas Justin Bieber, Beyoncé, Lady Gaga, e assim por diante.
Mas,
além disso, a palavra pop pode designar qualquer coisa, costume ou
pessoa que se torne muito popular. Quando algo se populariza, passa a ser
considerado pop.
A
cultura pop vai além da música. Diz respeito a filmes, artes, esportes, moda,
tendencias, etc. Na década de 90, a banda secular de rock nacional, Engenheiros
do Hawaii, lançou uma música cujo refrão dizia, “O papa é pop, o papa é pop.
O pop não poupa ninguém”.
Bom,
se ser pop significasse apenas ser popular, tudo seria muito mais
fácil; afinal, em seu tempo e guardadas as devidas proporções, o próprio Jesus
foi popular, conhecido, famoso. Sua fama não se espalhou tão rapidamente por
todo o império romano, mas, na região em que Ele desenvolveu seu ministério
público, realmente Jesus ficou muito conhecido. Isso quer dizer que Jesus era
um problema para a sociedade da época, ou uma má influência? Claro que não.
Jesus jamais pecou. Ele é o nosso modelo de perfeição e retidão em tudo. Mas
Ele é o que é, e não o que queremos que Ele seja. Não podemos distorcer a
Bíblia Sagrada interpretando levianamente o ministério de Jesus, apenas para
justificar as nossas escolhas e posturas.
Então, precisamos
aprofundar um pouco mais essa questão.
A POPULARIDADE DE JESUS
Lendo os quatro evangelhos[1]
com cuidado, constatamos facilmente que Jesus não correu atrás da fama. Ele
simplesmente fez exatamente o que foi enviado para fazer, e isso resultou,
naturalmente, na propagação de Seu Nome.
A
profecia que descreve o que Jesus foi escolhido para fazer nos ajuda a entender
essa questão.
Então
lhe deram o livro do profeta Isaías. E, abrindo o livro, achou o lugar onde
está escrito: “O Espírito do
Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os pobres;
enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos
cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e proclamar o ano aceitável do
Senhor.” Tendo fechado o livro, Jesus o devolveu ao assistente e sentou-se. Todos
na sinagoga tinham os olhos fixos nele. Então Jesus começou a dizer: — Hoje
se cumpriu a Escritura que vocês acabam de ouvir. (Lucas 4:17-21)
Foi isso que Jesus fez. Ele apenas foi
fiel no cumprimento da missão que o Pai lhe deu. Ele pregou o Evangelho aos
pobres, proclamou libertação aos cativos, curou os cegos, libertou oprimidos, e
proclamou o ano aceitável do Senhor. Como resultado disso, de forma totalmente
orgânica, Jesus ficou famoso.
Jesus
não tentou construir conexões com os famosos da época. Quando Herodes tentou
uma aproximação Jesus rejeitou. Quando os gregos quiseram ouvi-lo Ele disse
não. Jesus não buscou uma aproximação com os rabinos de seu tempo, nem com o
senado de Roma, nem nada parecido. O Senhor tinha tanto cuidado com isso que
Ele chegava a pedir para as pessoas que recebiam seus milagres não contassem a
ninguém o que Ele lhes havia feito. De fato, o foco de Jesus não era a fama.
JESUS É CONTRA A FAMA DOS SEUS
DISCÍPULOS?
Não, o Senhor não queria que seus
discípulos fossem obrigatoriamente desconhecidos. Ele não queria que nós nos escondêssemos.
Pelo contrário, o Senhor disse que deveríamos ser como uma cidade edificada
sobre um monte, e não como uma lamparina escondida debaixo de um cesto (Mateus
5:14-15). Ele disse, claramente, que deveríamos nos expor, pregando o Evangelho
ao mundo inteiro, isto é, a todas as pessoas. Fato.
Dito
isso, constatamos que o problema não está em ser famoso, mas nos caminhos
tortuosos que muitos escolhem a fim de alcançar a fama, e no que se faz com a
fama.
O primeiro
grande problema é quando os fins justificam os meios. O preço que se paga pela
fama pode custar a fidelidade a Deus, a obediência às Suas ordenanças.
O segundo grande
problema é o uso infantil e indevido da fama, que propaga mais o nome do famoso
que o Nome de Jesus, e que não resulta na proclamação autêntica do Evangelho de
Jesus.
É PECADO CANTAR MÚSICAS "NEUTRAS"?
Se eu dissesse que é pecado ouvir uma
música que não cita o Nome de Jesus, mas que também não diz nada de profano,
execrável, e que só diz coisas sábias e bonitas, eu teria que dizer também que
assistir um filme não profano e não evangélico é pecado.
Imagine um filme que
conta uma história real de uma pessoa que fez algo de muito valioso e relevante
pelas pessoas, ou um filme infantil sem nada ideologicamente antibíblico. Que
mal há nisso? É bem verdade que um bom filme pode ser instrutivo e
culturalmente enriquecedor.
Para mim, não há nada de
errado no puro fato de a Priscilla Alcantara cantar músicas “neutras”. Errado é
ela dizer que essa deveria ser a missão de um discípulo de Jesus e que foi isso
que Jesus fez. A razão é muito simples: não foi isso que Jesus fez. Ora, um
discípulo de Jesus deve fazer o mesmo que o Mestre fez. E Jesus não
pregou uma mensagem neutra. Jesus não escondeu o Nome de Deus.
Não me incomoda o fato de a Priscilla, como cantora profissional, cantar
músicas neutras. Me incomoda ela querer dizer que o que ela está fazendo agora
é o que a Igreja de Jesus deveria estar fazendo. E, infelizmente, a Priscilla
realmente anda dizendo essas coisas.
Recentemente ela concedeu
uma entrevista[2] na
qual disse que, para ela, o cristão que é artista está oprimido
pela limitação de poder transmitir apenas uma temática, isto é, a
temática do Evangelho. Em outras palavras, quando Jesus disse que deveríamos
pregar exclusivamente o Seu Evangelho, Ele estava lançando um fardo opressor
sobre seus discípulos. Para a Priscilla, romper com o gospel e partir
para o pop foi como escapar de uma prisão. (Talvez não foi exatamente
isso que ela quis dizer, mas foi isso que ela disse.)
De fato, Jesus deixou bem
claro que a nossa missão, como seus discípulos, não é outra, senão pregar o
Evangelho que Ele pregou, fazendo novos discípulos para Ele, ensinando-os a
guardar as mesmas coisas que Ele nos ensinou. O mundo inteiro precisa ouvir o
Evangelho de Jesus exatamente como ele é, sem omissões. Eis a missão da qual o
nosso Senhor Jesus nos incumbiu. Mas essa missão, para a Priscilla, é
opressora, limitada e limitadora.
Na referida entrevista, Priscilla
tenta justificar sua nova fase profissional dizendo que Jesus se fez
carne para que as pessoas pudessem ter uma experiência palpável com Ele,
pudessem identificá-lo. Ele se fez gente para se tornar mais compreensível. Priscilla
disse que ela quer garantir que todas as pessoas, incluindo as que fazem parte
da comunidade LGBTQIA+, se sintam amadas e possam viver suas próprias vidas
com dignidade. Priscilla quer se conectar e servir essas pessoas através da sua
voz, e ela quer fazer isso porque quer seguir o exemplo de Jesus, que promovia
encontros com todo tipo de pessoa, e a forma como Ele as abordava (segundo ela)
e falava era muito amorosa e receptiva, ao ponto de fazer com que as pessoas se
sentissem amadas, se sentissem bem. Por isso devemos tornar a mensagem do amor
de Deus mais acessível para todo mundo.
Especialmente nesse ponto
da entrevista, Priscilla dá a entender que Jesus jamais tocava no ponto
sensível de ninguém, jamais apontava o pecado, e se estivesse em nosso lugar
hoje, todas as pessoas do mundo o amariam apaixonadamente e se sentiriam dignas
diante dEle. Ou seja, se assim o fosse, hoje em dia, ninguém iria querer
crucificar Jesus. Ele seria idolatrado por todos e seus shows seriam sempre um
sucesso de bilheteria.
Qualquer leitor da Bíblia
conclui rapidamente que Priscilla está dizendo apenas parte da verdade.
De fato, Jesus se fez
carne por amor, para que pudéssemos também o conhecer de maneira mais íntima.
Realmente, Jesus era amoroso em tudo o que fazia. Porém, Jesus jamais deixou de
apontar claramente o pecado, e sua intenção não era fazer com que todos se sentissem
confortáveis e pudessem continuar vivendo suas vidas do jeito que sempre as viveram,
com tranquilidade e dignidade. Pelo contrário, Jesus revelou que a mulher
samaritana estava em adultério, e que já havia tido cinco maridos (João 4:16-18).
Trazer uma situação como esta à tona não é nada reconfortante; pelo contrário,
é constrangedor, é confrontador, é o que consideraríamos ofensivo e
desrespeitoso. Jesus disse à mulher apanhada em flagrante adultério: “Vai e
não peques mais”. O evangelho das priscillas de hoje diz apenas “Vai
em paz”. O Evangelho de Jesus jamais concede qualquer concessão ao pecado. Aliás,
o Senhor Jesus já começou o seu ministério pregando “Arrependei-vos, porque
é chegado o Reino dos céus” (Mt 4:17; Lc 5:32; Lc 24:47).
Inegavelmente, evangelho
que não chama o homem ao arrependimento pode ser qualquer outro tipo de
evangelho, menos o Evangelho de Jesus.
É pecado um artista
cristão produzir arte “neutra”? Não. Esta é a missão que Jesus deu para os Seus
discípulos? Não.
O grande problema está em
tentar usar Jesus para justificar uma opção profissional que visa simplesmente alcançar
um novo público. Visto que este novo público não receberá a mensagem clara do
Evangelho de Jesus, tal público não será servido, muito menos desafiado a tomar
uma decisão por Cristo. Somente por meio da pregação fiel das Escrituras o
homem pode ser salvo. Fato.
A arte “neutra” pode
entreter, encantar e sensibilizar. Nada mais. Uma expressão de arte jamais
poderá salvar nem servir as pessoas tanto quanto um ministério genuinamente
bíblico o pode. Justamente por isso Jesus nos deu a missão de pregar o Seu
Evangelho como ele é, pois é dele que o mundo precisa ⸺ nada menos.
Músicas como “Boyzinho”,
“Tem dias”, e “Eu não sou pra você”, não fazem nada de realmente relevante por
ninguém. Nada. Dura realidade.
O QUE FICOU CLARO ATÉ AQUI?
Ficou claro que para artistas como a
Priscilla, pregar o Evangelho como Jesus, os apóstolos e a igreja sempre
pregaram, afasta as pessoas, constrói muros ao invés de pontes.
Se
por um segundo tomássemos como legítima essa crítica à forma de discipulado que
Jesus instituiu, precisaríamos pelo menos levantar a seguinte questão aos
defensores dessa nova proposta:
⸺ Qual é a solução para o mundo
perdido, então?
De maneira mais direta,
eu perguntaria à Priscilla Alcantara:
⸺ Você disse na entrevista, entre
tantas outras coisas, que agora você quer servir essas pessoas, incluindo as
que pertencem à comunidade LGBTQIA+. Tudo bem. Mas, em que sentido exatamente
você vai servir essas pessoas?
A
julgar por aquilo que ela vêm fazendo nessa sua nova fase de carreira, esse “servir”
significa cantar músicas neutras, isto é, que não citam o Nome de Jesus, nem do
Espírito Santo, e mostrar a cena de um membro da LGBTQIA+ em um de seus
clipes, como ela fez no clipe da música “Tem dias”.
Ual!
Que solução fantástica. Cantar músicas românticas, “neutras”, no máximo reflexivas,
como “Boyzinho”, e mostrar uma cena de um “homem com salto alto” em um dos
clipes. Isso realmente mudará tudo: vidas serão transformadas, corações serão
restaurados, todo o preconceito cairá por terra. #sqn
Não,
simplesmente não. A solução para o preconceito humano é muito mais complexa do
que a arte que qualquer artista possa produzir, por mais bela que seja. O
preconceito está enraizado no coração do ser humano por causa do pecado.
Somente o próprio Evangelho genuíno e pleno pode resolver isso. Nada mais.
AGORA ELA É POP, OU SEMPRE
FOI?
Servir custa quanto? Qual o cachê que
se deve pagar a um servo?
Para
não correr o risco de ser radical demais, vamos abrir alguns parênteses.
Eu sei que uma carreira
musical de excelência custa caro. Não é barato gravar uma música em um bom
estúdio, com um bom produtor, com bons músicos; não é barato produzir um bom
videoclipe, e não é barato divulgar essa música. Eu sei.
Mas
será que isso quer dizer que as igrejas pequenas nunca mais poderão receber sua
visita e colaboração? Será que o campo missionário nunca mais verá você dando o
ar da sua graça? Será que as instituições de caridade jamais poderão receber
sua ajuda?
Não,
eu não cometerei o erro de dizer que a Priscilla Alcantara sempre foi pop
porque eu não a conheço. Não sei se ela cobrava cachê ou não, nem quanto ela
cobrava, nem como ela fazia isso, nem se ela era seletiva nos convites que
decidia atender, nem suas exigências de camarim, hospedagem, alimentação, etc.
Só sei que essas práticas, que são comuns no contexto pop, estão se
tornando cada vez mais comuns no contexto gospel. Aliás, hoje, a palavra
gospel, em muitos aspectos, infelizmente, já virou sinônimo de pop.
O
fato é que cantores e pregadores evangélicos que já se apaixonaram pelo glamour,
pelo dinheiro, pela fama, pelos números de visualizações, likes, followers,
e assim por diante, deixaram de ser servos e adoradores do Senhor para se
tornarem astros da cena pop como qualquer outro artista secular.
ALGUMAS CONSEQUÊNCIAS
O
que está acontecendo é uma grande tragédia para o trabalho sério da igreja por
vários motivos, e um dos principais é que esses fins justificam todos os meios
possíveis. Quando o objetivo é “impactar” mais pessoas, isto é, ficar mais
famoso e ganhar mais dinheiro, vale tudo. Vale assinar com qualquer tipo de
gravadora, qualquer tipo de contrato, fazer qualquer tipo de associação e
tráfego de influência, vale alterar o conteúdo do evangelho ou simplesmente
substituí-lo... vale tudo.
Outro grande problema
desse tipo de postura profissional adotada por um artista evangélico famoso é
que exercerá forte influência negativa sobre muitas pessoas que ainda são
superficiais em seu compromisso com Deus e conhecimento bíblico, como os novos
convertidos. Dura e triste realidade. Sob o pretexto de tentar chamar a atenção
dos que estão lá fora, eles acabam arrastando muitos de dentro para fora.
Como se não bastasse,
esse tipo de postura abre as portas para uma avalanche que dificilmente voltará
atrás. Cada vez mais teremos troca-troca entre gospel e pop, vai
e vem, toma lá ⸺ dá cá, uma mão suja a outra, e assim por diante. O altar de
Jeroboão e o de Jerusalém se aproximarão cada vez mais.
UMA PALAVRA AOS CANTORES E PREGADORES
Não mude o conteúdo. É possível
atualizar a linguagem, mas é inadmissível adulterar a mensagem. Estude com
seriedade e responsabilidade a Palavra de Deus. Pague um preço pelo
conhecimento e peça a direção do Espírito Santo. Busque ajuda qualificada.
Entenda o que de fato é o Evangelho, e, então, pregue-o através da sua arte, e
não altere-o por nada nesse mundo. E, por favor, não esconda o Nome de Jesus ⸺ é dEle que o mundo precisa mais do
que tudo. Se for para esconder algum nome, esconda o seu.
Não
se embriague com o vinho das multidões. Seja humilde, seja servo. Não aceite
tapete vermelho, lave os pés dos seus irmãos.
Não
se venda. Busque uma maneira sensata e equilibrada para lidar com o dinheiro,
mas não seja dinheirista ⸺ seu Senhor não é Mamon.
Não
seja só mais uma estrela brilhando no céu negro do universo gospel. Não busque
a fama, busque a Deus. Não meça sua relevância olhando as estatísticas das
redes sociais. Que sua meta pessoal não seja tornar-se cada vez mais famoso,
mas cada vez mais bíblico. Seja fiel a Deus.
[1]
Mateus, Marcos, Lucas e João; os quatro primeiros livros do Novo Testamente da
Bíblia Sagrada.
[2]
Link da entrevista: https://www.youtube.com/watch?v=qu-V7tdmcWw
(acesso em 14/09/21)
K.ra: foi na veia!
ResponderExcluirAmém. Muito obrigado por sua interação.
Excluir🙏👆🛐🙌👏👏👏
ResponderExcluirAmém. Muito obrigado por sua interação.
ExcluirPoderosa reflexão, com sabedoria de sempre.
ResponderExcluirAmém. Muito obrigado por sua interação.
ExcluirAmém. Muito obrigado por sua interação.
ResponderExcluirMuito legal esse ponto de vista.
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