Resenha do livro: A VOCAÇÃO ESPIRITUAL DO PASTOR [Eugene PETERSON] por Esdras Carvalho

Esdras Carvalho é presbítero da Igreja Evangélica Assembléia de Deus.
Coordenador e Professor de Teologia no CEEDUC 
É formado em Teologia e em Administração de Empresas.
É professor de Homilética e Hermenêutica.
Autor do livro: “Oratória para Pregadores – Assim é que se Prega”.

            Meu irmão Esdras é um servo de Deus que tem dedicado sua vida em amor ao reino de Cristo. Ele e sua família moram em nossos corações. Tenho muito orgulho de ser seu irmão. Abaixo, confira a resenha elaborada por ele.

Resenha do livro: A VOCAÇÃO ESPIRITUAL DO PASTOR de EUGENE PETERSON – por Esdras Carvalho






E dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, os quais vos apascentarão com ciência e com inteligência1. Com essas palavras fortes do profeta Jeremias, tem-se a convicção de que o trabalho pastoral é uma questão de vocação, e não de carreira. Enquanto na construção de uma carreira sempre há a imagem de um profissional, na vida pastoral vocacionada sempre há a imagem pastoral suscitada no salmo 23. A igreja atual está clamando por pastores, está cansada de líderes, terapeutas e profissionais.
É nesse cenário quase caótico que ergue-se a voz de Eugene Peterson. Peterson foi pastor da mesma igreja por 29 anos, acumulando experiência ministerial e conquistando credibilidade pastoral. Atualmente é docente em Teologia Espiritual no prestigiadíssimo Regente College, no Canadá, onde é professor emérito. Além de escritor e poeta, Peterson produziu uma tradução da bíblia sob o título The Message. Eugene Peterson é chamado por muitos de pastor de pastores2.
Na obra em apreço, o autor tem o propósito de estabelecer a partir da história bíblica de Jonas, o contraste entre o que ele chama de santidade vocacional e idolatria da carreira. Conforme suas próprias palavras, “Santidade vocacional em deliberado contraste com a idolatria da carreira é o meu assunto” (p.16). Peterson acredita também que há uma diferença entre santidade pessoal e santidade vocacional. Suas palavras são claras e desafiadoras quando diz, “Gostaria de ver a santidade de nossa vocação receber a mesma atenção que a piedade de nossa vida” (p.16).
A partir daí Peterson apresenta em seu primeiro capítulo o perfil do pastor que assume o lugar do próprio Deus quando compra sua passagem para Társis. É o escapismo exótico do pastor a quem Deus oferece “[...] uma vocação e o chama para realizar uma obra”. A resposta é afirmativa, mas, “[...] humildemente pedimos para escolher o destino. Seremos pastores, mas não em Nínive, faça o favor!” (p.26). Para o autor, Társis é o lugar onde os pastores podem construir sua carreira religiosa sem ter de lidar com Deus. O antídoto apresentado? Assumir a congregação e permanecer nela.
O segundo capítulo trata da fuga da tempestade. Peterson diz que barco religioso não é lugar para um pastor, e sugere a urgente e impreterível necessidade de que os pastores distingam religião cultural e evangelho cristão. O ativismo, o trabalho compulsivo por longas horas em busca de ser bem sucedido nos negócios da igreja é ferrenhamente combatido. O conselho é para que se escape da embarcação e se volte para a verdadeira vocação pastoral. O que é ser pastor? Peterson responde em tom pessoal ao dizer, “[...] encarno essa vida de oração, leitura da bíblia e direcionamento espiritual” (p.47).
No ventre do peixe. É aqui, no terceiro capitulo que o autor aborda a oração de Jonas e mostra que “Esse é o cerne da história, localizado no ventre do peixe” (p.75). Para Peterson após ocorrer o afogamento das intenções carreiristas, ressurge a genuína vocação pastoral. Jonas ora, e aqui está a chave, uma vez que “Tornamo-nos o que fomos chamados a ser por meio da oração” (p.75). Essa oração feita no interior do peixe é o que o escritor chama de necessária askesis, onde os ministros são reduzidos a nada e dependem inteiramente de Deus para que Ele os molde de acordo com sua vontade.
Em seu penúltimo capítulo, sob o título “À procura do caminho para Nínive”, o escritor aponta para um dos mais importantes aspectos da vocação pastoral, o local, o aspecto geográfico. A definição é inconfundível quando Peterson diz que “O trabalho pastoral implica trabalhar no local, resolvendo as coisas no solo específico de uma igreja específica” (p.115). A congregação é apresentada como o solo fértil da lida pastoral, ela deve ser respeitada e penetrada pelo pastor.
Nesse momento o autor apresenta uma reflexão muito profunda sobre este pastor que se entrega a sua congregação. Como ele pode penetrá-la como o fermento, respeitar suas características peculiares, satisfazer-se em seu trabalho e promover a mudança de que a igreja precisa? Sendo um pastor escatológico. Para o autor só a escatologia bíblica é capaz de evitar a perda do incentivo celestial à santidade, ao prêmio da vocação em Cristo Jesus. Eugene Peterson diz que “precisamos de pastores que vivam escatologicamente em nossas gerações, tal como João viveu nas suas” (p.134).
Finalmente, em seu último capítulo, “Brigando com Deus sob a planta imprevisível”, Eugene Peterson trabalha a confusão de Jonas ao ser surpreendido pela graça. A ira de Jonas é produto de sua confusão, e esta só pode ser assimilada e resolvida com o exercício da imaginação. Todavia, não trata-se de uma imaginação banal e abstrata, mas uma imaginação de quem tem a imagem correta. Definido este conceito o autor trabalha a questão da mudança de paradigma.
A mudança sugerida é clara nas palavras do próprio autor quando diz “A mudança de paradigma que procuro é de pastor como diretor de programas para pastor diretor espiritual” (p.157). Este pastor tem foco na adoração, vida de servo, sacrifício. É um trabalho que não visa estar no controle, admite ter falhas e tem disposição para a prática do perdão. Essa prática de direção espiritual, que é apontada como o cerne do trabalho pastoral, surge da comunhão. Na comunhão o pastor sai do centro e vê Deus agindo. É uma vocação em Nínive, e não uma busca por uma carreira em Társis.
O livro é excelente leitura para pastores, é um referencial para quem busca servir a Deus nessa vocação que é dada por Deus, e que na bíblia é apresentada como uma dádiva de Deus a uma igreja. O maior presente com o qual o autor brinda seus leitores é o modelo de ministério pastoral que ele apresenta como sendo a verdadeira vocação espiritual do pastor. Um pastor que não foge para Társis, mas encara o desafio de permanecer fiel em Nínive e a Nínive.
A obra se faz ainda mais excelente quando não permite a justificativa barata de que este ministério, baseado em Jonas, é utópico e não combina com determinada cultura. Se Jonas não entende as surpresas da graça, o autor ensina que “minha pequenez agora estava incorporada à sua enormidade” (p.175).
_____________________
1 – Jeremias 3 e 15. Almeida Corrigida e Revisada Fiel
2 – Informações extraídas de: http://www.mundocristao.com.br/autordet.asp?cod_autor=154  -  Acesso em 08/12/2010


Contatos de Esdras Carvalho:
e-mail: professoresdrascarvalho@hotmail.com

Comentários

  1. Como o irmão vê o fato de ele não entender que Jonas era um personagem histórico?

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Rm 12:1-2: Adoração, santidade e conhecimento de Deus

O Candelabro como símbolo do Espírito Santo e da Igreja (Éder Carvalho)

Entre Porcos e Cristo: Jesus e o Endemoninhado Gadareno